O Insper traz um resumo do que o economista José Alexandre Scheinkman expôs sobre os determinantes da produtividade em sua última passagem pelo Brasil. Durante o seminário internacional promovido pelo CPP, além de abordar noções típicas quando o assunto é produtividade, o professor da Columbia University explicou a chamada produtividade de fatores, um determinante na hora de medir a produção de uma companhia ou país.
Segundo Scheinkman, até bem pouco tempo, tudo que se falava sobre produtividade era comparando países. Mas a literatura recente mudou o viés e passou a olhar também dados microeconômicos e dados de empresas e indústrias, trazendo muito mais avanço no conhecimento sobre produtividade.
Entre os fatores comumente analisados ao se medir resultados estão produtividade do trabalho e de capital. O economista disse que número de horas trabalhadas e a qualidade do trabalhador podem mudar muito os resultados. “Notamos um aumento enorme na produtividade do trabalhador com maior grau de escolaridade. A saúde também tem uma relação importante com a produtividade no trabalho”, acrescentou.
Sobre o capital, o professor revelou que a medida ainda é uma dificuldade e que, em geral, ele é medido a partir de uma série de investimentos. “Outro ponto é a heterogeneidade na qualidade do capital. Sabemos que certos tipos de capital possuem mais investimento que outros. Por exemplo, equipamentos de comunicação que tem muito mais investimento em pesquisa e desenvolvimento contido nele do que equipamentos não elétricos”, disse.
Produtividade Total de Fatores (PTF) – Scheinkman afirmou que outro conceito chamou a atenção dos economistas em todo o mundo e fez com que voltassem todo o interesse para a ideia: é a produtividade total de fatores. “Você olha duas firmas que empregam o mesmo número de trabalhadores com a mesma educação, empregam a mesma quantidade de capital e uma produz muito mais que a outra. Essa diferença é a chamada produtividade total dos fatores”, explicou o economista ao dizer que um dos pontos mais interessantes do conceito é que necessita de um modelo econômico para medir resultados.
“Essa variação no resultado explica boa parte da diferença de renda entre países. A principal diferença de renda não vem do fato de se ter mais capital por trabalhador, por exemplo. Essas variações são muito pequenas. Se você somar quantidade de capital, corrige por hora de trabalho, pela educação, qualidade da educação, pela saúde, alguma medida do capital físico etc, você chegará a menos de 50% da instituição. Sendo assim, metade da explicação vem dessa coisa misteriosa que a gente chama de produtividade total de fatores”, acrescentou.
Então qual é o sucesso do trabalho a PTF? Scheinkman acredita que é a explicação das variações sistemáticas no produtos que não são resultadas do emprego de fatores. “Para explicar a parte que falta existem duas fontes: dados dos países e dados microeconômicos”. Apresentando dados, ele mostrou também que a PTF no Brasil não teve praticamente nenhum aumento de produtividade entre 1989 e 2008, ficando na casa dos 2% ao ano. “A exceção é a agricultura, que cresceu cerca de 3,3% ao ano.”
A produtividade sofre outras influências – O ambiente legal e regulatório também afetam a diferença entre firmas, indústrias e, evidentemente, a diferença entre países. “Tolerância à informalidade de firmas pequenas e barreiras ao comércio internacional estão na lista. Se uma indústria necessariamente usa insumos que são protegidos, ela terá uma produtividade menor. Relacionaram com isso a política industrial e por meio de incentivos fazem com que a situação fique mais equilibrada”, destaca o economista, acrescentando que falta de infraestrutura, menos investimentos em tecnologia de informação e em pesquisa e práticas de gestão menos eficazes também tornam as empresas menos produtivas.
O exemplo escolhido foi a economia americana. Para ele a recuperação na produtividade que começou por volta da metade dos anos 90 está diretamente ligada à tecnologia da informação. “Ela não mudou apenas a capacidade de produção na indústria de TI, como também em toda a cadeia. Ficou barato distribuir e comprar coisas nos EUA. O menor investimento europeu nesta área explica o crescimento inferior do continente. No entanto, multinacionais americanas, por exemplo, usam na Inglaterra a mesma quantidade de tecnologia de informação que usam nos EUA e isso mostra eficiência na prática de gestão”.
Scheinkman explicou ainda que o estímulo à inovação influencia muito a capacidade de produção. “A pesquisa e desenvolvimento são peças fundamentais para alcança-la. Será que as firmas mais lucrativas fazem mais pesquisas? Há estudos que mostram que de fato esse tipo de investimento aumenta a eficiência”.
Sobre a prática de gestão, Scheinkman afirmou que, na média, empresas brasileiras usam piores práticas de gestão que as americanas. “Se olharmos os resultados sob esta ótica, como no gráfico (abaixo), a diferença se dá pelo Brasil ter muitas firmas com práticas de gestão muito ruins e isso é muito prejudicial à produtividade”.
Além disso, ele completou dizendo que os resultados são notoriamente mais baixos em mercados menos competitivos, mais regulados e em firmas familiares. Para o economista, quanto mais aberto o mercado, mais competitivas são as firmas. E o ambiente regulatório não é única coisa que influencia: a cultura das empresas também faz diferença, já que, no geral, empresas multinacionais são mais competitivas e mantém práticas melhores. “Uma firma americana atuando na Inglaterra, por exemplo, vai ter uma gestão melhor do que uma empresa italiana, mesmo estando no mesmo ambiente regulatório. Firmas com colaboradores com nível educação mais altos também vão melhor e as que exportam também apresentam resultados melhores com relação à gestão de negócios”, concluiu.
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