O professor Eric Martins, coordenador de Contabilidade e Finanças do Insper, fala sobre como concilia a atividade acadêmica e a paixão pela música
Bárbara Nór
De um lado, a contabilidade, a sala de aula e o escritório. De outro, instrumentos como a viola caipira, a bateria e, atualmente, o clarinete. Para o professor Eric Martins, coordenador da área de Contabilidade e Finanças no Insper, é impossível viver sem música. Tanto que, sempre que possível, ele conserva algum instrumento musical ao alcance para praticar. Em seu escritório, por exemplo, ele tem pelo menos dois à disposição, assim como na sala de sua casa e até no sítio de seu pai. “Sempre tenho um violão, uma viola por perto”, diz Martins.
A paixão pela música é antiga. Ele conta que começou a tocar um violão velho de sua mãe quando tinha 16 anos. Aprendeu de forma autodidata, com a ajuda de amigos que tocavam, e comprando revistas. Tinha, inclusive, o sonho de ter uma carreira profissional na música. Mas a vontade acabou ficando para trás na hora de escolher a primeira graduação. “Diziam que não daria dinheiro, que era melhor pensar em outra coisa”, diz. Por isso, decidiu estudar contabilidade.
Mas, depois de se formar, em vez de procurar um emprego em um escritório, Martins tomou uma decisão diferente: começou a segunda a graduação em música, projeto que logo se transformou em um mestrado na Escola de Comunicação e Artes, na USP, por sugestão de colegas que conheceu na faculdade. Durante esse tempo, Martins estudou algumas das primeiras partituras de música brasileira registradas por viajantes no Brasil.
Apesar de terem sido registradas para o piano, Martins descobriu que o mais provável é que fossem tocadas na viola caipira, instrumento então popular nas casas brasileiras. “Uma série de coisas nos arranjos sugerem isso e o piano mal tinha chegado ao Brasil”, diz. Além da pesquisa, Martins também procurou transformar os arranjos para ver como soariam na viola de hoje e na linguagem de hoje. “Foi muito legal poder estudar a evolução histórica do instrumento e a aplicação prática do arranjo.” Ele chegou a gravar um CD tocando as músicas com um grupo.
No entanto, a dúvida sobre a carreira viria mais uma vez no fim do mestrado, mesma época em que o primeiro filho de Martins nasceu. “Foi aquele dilema — continuar na música ou voltar para a contabilidade para ter uma vida mais estável”, lembra. A área contábil acabou ganhando. Martins fez, inclusive, o doutorado e pós-doutorado nessa área.
Hoje professor, ele considera que conseguiu unir, de alguma forma, outras de suas paixões: a academia e a sala de aula. Durante o mestrado em música, por exemplo, Martins dava aulas particulares, algo de que gostava muito e que considera sua vocação natural. “Minha família toda é de professores”, diz. “Qualquer coisa que eu fosse fazer, sei que eu teria esse lado de academia e de transmissão do conhecimento.”
Já a música segue fazendo parte de sua vida. “Não só toco, como venho ampliando cada vez mais os instrumentos que estudo”, conta. “Não tem a menor possibilidade de viver sem isso.” Além de ajudar a relaxar em momentos de mais estresse, estudar música, para Martins, é uma forma de desenvolver outras competências.
“A música mostra que, se você não se dedica, não treina, não estuda, você não vai para a frente”, diz. “E ela também desperta a nossa criatividade, que é fundamental para qualquer profissão.” Como professor, por exemplo, ela ajuda a criar atividades diferentes para que as pessoas aprendam e se engajem nas aulas.
“Todo mundo deveria ter alguma coisa, seja música, fotografia ou teatro, algum hobby que ajude a desligar e ter um espaço e tempo para si”, afirma.