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Legado da Pandemia: debate sobre política e comunicação

O último debate de lançamento do livro “O Legado da Pandemia” abordou os aprendizados trazidos para o mundo da política institucional e da comunicação neste período

O último debate de lançamento do livro “O Legado da Pandemia” abordou os aprendizados trazidos para o mundo da política institucional e da comunicação neste período

Imagem capturada durante a transmissão do webinar de lançamento do livro O legado da pandemia, reunindo autores e convidados para o quarto dia de debates

No último encontro da série de debates que marcou o lançamento do livro O Legado da Pandemia, transmitido online no dia 4 de março, o Insper, em parceria com a Fundação Brava, convidou o público a debater os aprendizados que a pandemia trouxe para o mundo da política institucional e da comunicação.

Organizado pela professora do Insper Laura Muller Machado, o livro conta com as reflexões de 26 professores e pesquisadores que se debruçaram sobre os legados e aprendizados da pandemia para a política pública. O livro foi disponibilizado gratuitamente em formato e-book, saiba mais e baixe a publicação aqui!

Para esse evento, foram reunidos os autores Carlos Eduardo Lins, Carlos Melo, Milton Seligman e Pedro Burgos, professores do Insper. A mediação foi feita por Laura Muller Machado e Aline Midlej, jornalista e âncora do Jornal GloboNews, foi convidada para comentar e trazer suas reflexões sobre os temas estudados.

O papel da ciência para formular políticas

O autor Milton Seligman, que foi coordenador do Programa Avançado em Gestão e Políticas Públicas do Insper, falou sobre a relação entre a ciência e a formulação das políticas públicas mais efetivas para lidar com a crise. Para ele, o legado desse período é que a sociedade está aprendendo que pesquisadores e cientistas podem e devem participar da formulação de planos de ação.

“Nossa sociedade passou a conhecer e até se orgulhar de instituições científicas e dar centralidade para a ciência como balizadora dos temas centrais das discussões em todo o planeta. Ao lado de governantes, estamos vendo cientistas auxiliando tomadores de decisão na definição de políticas importantes e poucas vezes as ações destes cientistas geraram tamanha esperança nas pessoas”, disse Milton.

Aline Midlej concordou com as proposições de Milton quanto à importância da maior presença da ciência nas políticas para nossa sociedade. Ela citou a pesquisa trazida no artigo, que mostra que os brasileiros estão no grupo de pessoas que menos confiam na ciência. “Isso é uma das coisas que temos tentado combater ao longo de todo o período dessa pandemia. Nunca na história recente a ciência esteve tão perto da sociedade”. A jornalista também questionou como nós, enquanto sociedade, podemos nos organizar para que esse legado continue e a ciência esteja mais presente da comunicação diária no Brasil.

Para Milton, os cientistas podem influenciar dirigentes públicos com mandatos, mas eles só vão abrir espaço para essa influência se houver consciência social sobre isso. “Muitas vezes, os dirigentes não estão abertos a isso, mas há espaço na sociedade civil para pressionar e avançar nas políticas públicas embasadas na ciência.”

Os rumos da política

No artigo do professor Carlos Melo, ele questiona se haverá uma mudança no curso da política que víamos antes da pandemia. Na sua visão, foi necessário compreender que já existiam diferentes crises que antecediam a pandemia e que o momento atual as acelerou, integrando uma grande transformação mundial em curso.

“Em termos de legado, a pandemia mostrou que o mundo precisa de políticas públicas para lidar com suas desigualdades sociais e que o estado tem um papel muito importante nisso. Ao longo da década passada, ficou evidente um mal-estar da sociedade e alguns se aproveitaram disso para vocalizar o populismo e a demagogia, mas a pandemia provou que esses demagogos não dão conta de lidar com os problemas da crise”, explicou Carlos.

Aline aproveitou o gancho utilizado pelo professor para questionar o porquê desses demagogos continuarem tendo respaldo de tantas pessoas. “De que forma a falta de discussões no âmbito oficial impede a criação de políticas mais robustas para combater o apoio a governos que implementam políticas tão questionáveis de manutenção da vida?”

“Independente da pandemia, existe um mal anterior, um ressentimento e impressão de derrota. Ao pensar no universo de políticas públicas, você vai ter que pensar num universo de sentimentos para encontrar algum tipo de solidariedade. As instituições existem para coordenar ações e desenvolver mecanismos de solidariedade, mas não têm conseguido nenhuma das coisas, por isso acabam sendo questionadas e levam à crença na demagogia”, respondeu Carlos.

O Futuro do Jornalismo

No terceiro capítulo do livro, o professor Carlos Eduardo Lins discute a indústria do jornalismo, que, assim como a política, também sofreu com a pandemia por fatos que ela já vinha enfrentando há muito tempo, devido ao que ele chama de uma crise estrutural séria.

“Com a pandemia, os valores discutidos anteriormente, políticos e eleitorais, passaram a ser muito mais importantes, implicando em vida e morte. Houve um retorno ao jornalismo que se praticava no século XIX, um jornalismo de causas e partidarismo, distante do modelo que conhecíamos, que buscava a objetividade”, disse Carlos.

Em seguida, Aline reconheceu que há uma grande revolução da informação em curso. “Eu acho que vivemos um novo momento e é um caminho sem volta. O jornalismo de causas vai ganhar mais solidez nos próximos anos. Mas me pergunto se a indústria, as grandes chefias, investidores e o comando das redações estão prontos para legitimar isso como uma nova forma de comunicar e fazer notícias”.

Para Carlos, embora não haja objetividade total, o modelo de jornalismo anterior tinha suas vantagens por expor ideias opostas que acabavam sendo ouvidas por todos os públicos. “Não sei se será melhor ou não para a sociedade esse novo jornalismo de causas ocupar esse espaço, no entanto, no papel de pesquisador, devo analisar as tendências e acredito que essa é uma que tem se confirmado”.

Como comunicar a incerteza?

O último artigo do livro foi debatido pelo autor Pedro Burgos, que discorreu sobre o desafio de escrever sobre a comunicação de incertezas e como falar com o público sobre aquilo que não se conhece tão bem.

“Foram várias descobertas que, muitas vezes, foram comunicadas de uma forma muito assertiva para a população. Mas a ciência é um processo, e muitas vezes ela foi usada como um cajado para mostrar certeza, mesmo quando não era possível dar garantias sobre várias coisas. Hoje em dia, vemos entrevistas com os especialistas e elas transmitem muito mais cuidado com essas certezas e assertividade”, explicou Pedro.

Em seguida, Aline complementou a reflexão pontuando que, para ela, credibilidade não tem relação direta com passar certezas inquestionáveis. “Temos que trabalhar nossa capacidade de comunicar com segurança a incerteza. Acho que tanto os cientistas quanto os jornalistas tiveram que viver isso de uma maneira muito difícil, com esse peso de ter que trazer alento para as pessoas”.

“Hoje, o mundo produz muito mais dados e precisamos aprender a comunica-los melhor, sempre lembrando as lacunas que temos, deixando claro que aqueles são os dados que temos até o momento, sem que necessariamente tenhamos total compreensão”, concluiu Pedro.

Webinar completo

Em seguida, houve um espaço para que os autores pudessem responder às perguntas propostas pelo público do evento. Assista à gravação completa do webinar:

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