Nos dias 19 e 20 de agosto, o Insper ofereceu uma experiência única para os profissionais que buscam moldar o futuro dos negócios. A terceira edição do Seminário Internacional de Inovação reuniu especialistas de renome para compartilhar conhecimentos e insights estratégicos sobre as mais recentes tendências do mercado. Com uma programação rica e inspiradora, cuidadosamente elaborada para profissionais seniores, executivos de inovação, líderes C-level, tomadores de decisão e empreendedores, o evento proporcionou um espaço para a troca de ideias disruptivas, criou oportunidades valiosas de networking e instigou os participantes a refletirem sobre como a inovação impactará organizações, negócios e indivíduos.
Na abertura do evento, o presidente do Insper, Guilherme Martins, destacou a importância de promover uma cultura de inovação que permeie todas as áreas do conhecimento e capacite os profissionais para enfrentar os desafios do futuro “Acreditamos no ‘Jeito Insper de ser’. Nós nos empenhamos para integrar diferentes áreas do conhecimento, desenhar cursos com essa visão e combinar ensino com pesquisa aplicada. Acreditamos que a prática é uma forma poderosa de aprender boa teoria. Trazemos problemas do mundo real para a sala de aula como temas para nossos projetos de pesquisa”, disse Martins. “Para alcançar isso, devemos nos manter próximos de organizações tanto do setor público quanto do privado. O tipo de engajamento que estamos tendo aqui hoje no Hub de Inovação e Empreendedorismo Paulo Cunha é essencial para esse propósito.”
Na sequência, Bruno Rocha, country head da Tata Consultancy Services (TCS) no Brasil, patrocinadora do seminário, destacou a importância da parceria de 10 anos recém-anunciada entre a TCS e o Insper, com o objetivo de desenvolver soluções inovadoras para os principais clientes e apoiar o crescimento do Brasil em diversos setores. Rocha enfatizou o compromisso de longo prazo da TCS com a inovação no país, ressaltando que a empresa, com mais de 20 anos de atuação no Brasil e cerca de 6.000 funcionários, vê no Insper o parceiro ideal para alcançar esses propósitos. “Por meio desta parceria e deste seminário, nosso objetivo é ir ainda mais longe. Estamos patrocinando este evento porque acreditamos que ele reunirá as melhores inovações de todo o mundo. Convidamos palestrantes de alto nível que, tenho certeza, agregarão um valor imenso a todos nós”, disse.
Por sua vez, Rodrigo Amantea, head do Hub de Inovação e Empreendedorismo Paulo Cunha, fez um breve relato da atuação do centro. “Os pilares principais do Hub são a inovação com organizações parceiras, a conexão com nossos programas acadêmicos e o incentivo ao empreendedorismo, especialmente para nossos ex-alunos. Oferecemos serviços de consultoria, programas de aceleração e estamos conectando ex-alunos com oportunidades de investimento, além de revitalizar o investimento-anjo em parceria com o Insper Angels”, destacou.
Abrindo a programação do dia 19 de agosto, Shuya Gong, professora de inovação da Escola de Engenharia da Universidade Harvard, deu uma masterclass sobre a construção e manutenção de culturas de inovação em empresas. Ela lembrou que inovação é um processo iterativo para resolver problemas alinhando sistemas de incentivos. Shuya recorreu a uma analogia entre vitamina e analgésico. “Se você é uma vitamina, precisa se concentrar na narrativa e mostrar como está prevenindo um problema. Se é um analgésico, precisa trabalhar na solução, pois todos conhecem o problema e estarão avaliando sua solução criticamente”, comparou. “O LinkedIn chegou tarde à cena das redes sociais, mas surgiu como um analgésico, resolvendo o problema de manter a rede profissional separada da rede social.”
O lado revolucionário da inovação, que inspira coisas novas, é construir empatia com o cliente, na opinião de Shuya. “Siga estes passos: entenda seu cliente, quais são as tarefas a serem realizadas, como ele se sente ao realizá-las, quais são suas tarefas, como podemos ajudar a realizar essas tarefas de forma mais satisfatória e, em seguida, pense em ideias”, disse ela. E então alertou para o que o Fórum Econômico Mundial chama de “era da policrise”, envolvendo a catástrofe das mudanças climáticas, da perda de empregos devido à automação da IA e da crise de saúde mental nas redes sociais. “Estamos lidando com todas essas coisas acontecendo ao mesmo tempo. E isso significa que há uma grande mudança na forma como os negócios têm abordado a inovação desde o início. Na era da policrise, estamos em um momento em que realmente precisamos pensar sobre qual é a nossa vantagem colaborativa”, afirmou.
Shuya Gong participou em seguida de uma rodada de debates com Vijay Srinivasan, head de inovação da TCS, Carolina da Costa, diretora de investimentos de impacto e sustentabilidade da Stone, e Gustavo Tavares, professor do Insper. O bate-papo foi moderado por Rodrigo Amantea.
Shuya iniciou o painel destacando a importância da ligação entre inovação e processos bem estruturados, enfatizando que “inovação é qualquer processo para resolver problemas alinhando seus sistemas de incentivos”. Segundo ela, ao criar um ambiente onde os incentivos estão alinhados, as organizações podem estabelecer uma base sólida para que a criatividade e a resolução de problemas prosperem. Shuya reforçou que a inovação não acontece por acaso, mas por meio de um esforço deliberado em criar processos que permitam que as ideias inovadoras se desenvolvam de forma eficaz.
Vijay Srinivasan, da TCS, expandiu essa ideia ao compartilhar como sua empresa cultiva a inovação em diferentes níveis de envolvimento. Ele explicou que a TCS promove a inovação criando pequenas equipes dedicadas à ideação e oferecendo-lhes a autonomia necessária para explorar novas ideias sem medo de fracassar. Segundo Vijay, ao proporcionar um ambiente no qual os colaboradores se sentem seguros para experimentar e errar, a TCS consegue fomentar um ecossistema de inovação contínua.
Carolina da Costa, da Stone, trouxe uma perspectiva financeira para o debate, discutindo como sua empresa adota uma abordagem estratégica ao reservar uma parte do orçamento especificamente para projetos de inovação. Ela enfatizou que esse processo disciplinado permite que a inovação esteja diretamente ligada aos resultados de negócios, incentivando os colaboradores a pensar como empreendedores dentro da organização.
O professor Gustavo Tavares, por sua vez, abordou a inovação sob o prisma dos recursos humanos, enfatizando que “a inovação acontece por meio das pessoas”. Ele destacou a importância de alinhar habilidades, motivação e oportunidades, além de sublinhar o papel crucial da liderança em sinalizar a relevância da inovação. O painel concluiu com um consenso sobre a necessidade de equilibrar a tecnologia com a criatividade humana, lembrando que, embora a IA seja uma ferramenta poderosa, a verdadeira inovação exige pensar além do que já foi feito, aproveitando ao máximo o potencial humano.
Na tarde de 19 de agosto, Chetan Malhotra, cientista-principal da TCS, falou sobre o desenvolvimento e a implementação de cobots (robôs colaborativos) de conhecimento, projetados para melhorar a eficiência organizacional e a tomada de decisões. Esses cobots capturam e utilizam sistematicamente o conhecimento humano, ajudando as organizações a reter expertise crítica mesmo quando funcionários-chave deixam a empresa. Malhotra destacou que o objetivo é permitir que indivíduos menos experientes trabalhem como especialistas, transferindo o conhecimento de profissionais experientes para sistemas computacionais, garantindo dessa forma a continuidade e a confiabilidade das operações.
Malhotra abordou também os desafios crescentes de retenção de conhecimento em setores como bancário e manufatureiro, onde a documentação incompleta muitas vezes dificulta a transição de tarefas para novos funcionários. Para enfrentar esses desafios, ele descreveu um processo que envolve o uso de semântica, virtualização de dados e ferramentas, e IA generativa para extrair e estruturar conhecimento. Embora a IA generativa seja uma ferramenta poderosa, Malhotra apontou suas limitações em entender o contexto e explicar suas decisões. Por isso, ele propôs uma abordagem combinada de raciocínio semântico, engenharia de conhecimento e contextualização de dados, que oferece uma maneira confiável de capturar e aplicar o conhecimento especializado, mantendo a eficiência operacional das organizações.
No dia 20 de agosto, Verne Harnish, especialista em crescimento empresarial com mais de 30 anos de experiência, deu uma masterclass sobre como expandir um negócio utilizando a metodologia das Quatro Decisões, que abrange pessoas, estratégia, execução e caixa. Harnish abordou as questões mais críticas em cada uma dessas áreas e apresentou exemplos práticos, destacando a importância da inovação e do pensamento estratégico para aumentar o valor das empresas. Como fundador da Entrepreneurs’ Organization (EO) e da Scaling Up, empresa global de educação executiva, Harnish enfatizou a necessidade de focar em inovações que abordem restrições específicas, proporcionando o poder de precificação necessário para se destacar em mercados competitivos.
Harnish também explorou a importância da estrutura organizacional na promoção da inovação. Ele afirmou que os modelos hierárquicos tradicionais estão se tornando obsoletos diante de estruturas ágeis e baseadas em equipes, que imitam a eficiência de sistemas naturais como formigueiros ou colmeias. O especialista argumentou que a gerência intermediária, muitas vezes um gargalo na tomada de decisões, está se tornando cada vez mais desnecessária. “As colmeias não têm nem precisam de gerência intermediária, e nós também não”, afirmou, defendendo equipes mais enxutas e responsivas, capazes de se adaptar rapidamente às mudanças do mercado.
Verne Harnish participou em seguida de um bate-papo com Bruno Rocha, country head da TCS no Brasil, Laura Costantini, cofundadora da gestora de venture capital Astella, e Charles Kirschbaum, professor do Insper. O painel foi moderado por Nicholas Reade, cofundador da consultoria RRBA Business Advisory. Os participantes discutiram as complexidades da inovação, estratégias de precificação e a importância dos ecossistemas no crescimento dos negócios.
Harnish explicou como a adoção de modelos de precificação escalonados, como o “Good, Better, Best Pricing”, pode aumentar significativamente a receita, citando o exemplo da Dell, que aumentou seu faturamento em 300% utilizando essa estratégia para incentivar os consumidores a optarem por opções de preço mais alto. Laura Costantini aprofundou a conversa, destacando a importância dos ecossistemas para apoiar a inovação, especialmente em mercados emergentes. Ela enfatizou que empresas bem-sucedidas criam ecossistemas em torno de suas plataformas tecnológicas, o que aumenta o engajamento dos stakeholders e acelera o crescimento.
Charles Kirschbaum complementou, ressaltando a importância de incluir fornecedores no ecossistema de stakeholders para impulsionar a inovação, exemplificando com o sucesso da Dell, que envolveu todas as partes da cadeia de valor. Bruno Rocha destacou a importância de focar em poucas inovações-chave, em vez de perseguir inúmeras ideias simultaneamente. Ele alertou para os riscos de basear decisões em opiniões de um único cliente, defendendo o uso da sabedoria coletiva, como no crowdsourcing, que frequentemente resulta em melhores insights.
A discussão também abordou o impacto da IA nos ecossistemas de inovação, com os participantes concordando que a IA transformará fundamentalmente as operações empresariais, assim como a internet e as tecnologias móveis fizeram no passado.
Rodrigo Madeira, gerente de contas EdTechs na Amazon Web Services, o braço de computação em nuvem da Amazon, relatou em sua palestra a abordagem única de inovação do gigante de varejo, que não segue uma “receita pronta”, mas se baseia em uma cultura profundamente enraizada em toda a empresa. A missão central da Amazon, segundo Madeira, é ser “a empresa mais centrada no cliente do planeta”, o que guia todas as suas ações. Exemplos práticos dessa filosofia incluem o caso do Amazon Prime, onde reembolsos proativos são feitos para clientes que enfrentam problemas, sem que estes precisem solicitar.
Madeira também falou sobre a estrutura organizacional da Amazon, destacando a atuação de pequenas equipes autônomas que impulsionam a inovação de forma ágil. Esses times precisam se manter coesos e, para isso, a empresa adota a “regra das duas pizzas” — essa quantidade de comida precisa ser suficiente para alimentar todo o time.
Madeira enfatizou que o erro é uma parte essencial do processo de inovação, citando o exemplo do Fire Phone, um smartphone com tela 3D sem óculos, apresentado em 2014, mas descontinuado. Apesar de ter sido um fracasso comercial, o Fire Phone gerou aprendizados valiosos para o desenvolvimento de produtos futuros, como a assistente virtual Alexa. Para Madeira, “falha e invenção são gêmeos inseparáveis”, e aprender com os erros é crucial para a evolução contínua da empresa.
Kevin Benedict é um futurista da equipe da Tata Consulting Services e também escritor, palestrante e humorista. Foi em tom descontraído que, no último painel do evento, ele mostrou o que a história pode ensinar sobre o futuro. “O futuro está cheio de incertezas e coisas que podem enfraquecer a humanidade ou engrandecer a humanidade”, disse Benedict. “A história nos lembra que somos uma espécie teimosa, profundamente resistente a fazer mudanças profundas em nosso comportamento e hábitos, mesmo quando é claro que precisamos fazer isso. Mas, uma vez que fazemos, podemos criar coisas.”
Nos últimos cem anos, por exemplo, a humanidade acumulou inovações em ciência, tecnologia, geopolítica, negócios, economia e sociedade. Benedict disse que são fatos importantes porque o futuro não é causado por uma ou duas invenções, mas fruto da convergência de uma série de coisas acontecendo ao mesmo tempo que molda o mundo em que vivemos. “Ao olharmos para padrões históricos, percebemos que sempre que há um avanço humano há uma correlação correspondente ao crescimento do conhecimento, desde o alfabeto até a linguagem, escrita, imprensa de Gutenberg, internet e agora a inteligência artificial”, afirmou. Ele lembrou que a história mostra os nossos erros e acertos, portanto os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.