Até pouco tempo atrás, um paciente buscava atendimento de saúde apenas para curar alguma doença. Mas com o envelhecimento geral da população e a busca por ações preventivas que garantam uma qualidade de vida por mais tempo, a relação entre pacientes e consultórios médicos vem mudando muito.
O atendimento, que era ultraespecializado, tem dado mais espaço ao formato multi, inter e até transdisciplinar. Profissionais de campos do conhecimento diversos, como medicina, nutrição ou fisioterapia, passaram a atuar mais em conjunto em busca de um atendimento mais completo e integrado, voltado para as necessidades dos pacientes.
Claro que há ainda uma coexistência entre todos esses modelos de atendimento, seja em consultórios, clínicas ou hospitais. Mas existe uma tendência a esses novos modelos de atendimento, que demandam, portanto, novas formas de gestão.
Este artigo vai detalhar cada uma delas.
A gestão de equipes na área da saúde adota práticas comuns de outros setores.
As principais são as seguintes:
Existem softwares de gestão de clínicas que podem contribuir com a organização e a otimização dos processos internos, melhorando a produtividade e o desempenho das equipes e economizando tempo dos funcionários.
O uso do prontuário eletrônico e de outras ferramentas tecnológicas, por exemplo, libera o médico de parte do seu trabalho mais braçal e agiliza o atendimento.
Uma das principais práticas de gestão de equipes é a de sempre procurar manter os membros das equipes motivados.
Isso inclui tanto o cuidado com as demandas e com o ambiente de trabalho, para que este seja mais satisfatório para todos, quanto as recompensas e reconhecimentos que estimulem o bom desempenho das equipes, individualmente ou em trabalhos em conjunto.
É essencial que o gestor saiba ouvir as demandas específicas de cada profissional e dos times que fazem parte da organização.
Pode acontecer, por exemplo, de o time de médicos estar sendo bem contemplado nas ações de engajamento, mas o time de enfermeiros expressar queixas ou dificuldades, que devem ser ouvidas e sanadas.
Os feedbacks devem vir dos gestores para seus subordinados e vice-versa. O importante é que exista essa cultura, que pode contribuir tanto com o fator da escuta ativa quanto da motivação final.
Os feedbacks podem ser em forma de avaliação, com periodicidade fixa ou não, coletivos ou individuais. Seja qual for o formato, eles ajudam a melhorar o desempenho das equipes como um todo.
Assim como os feedbacks, os treinamentos devem ser parte da rotina de uma gestão de equipes.
São uma forma de manter os times sempre atualizados em suas áreas, engajados e também aptos em outras habilidades, não necessariamente de sua expertise técnica.
Por exemplo, treinamentos em soft skills como organização do tempo, trabalho em equipe e cuidados com a inteligência emocional podem contribuir com o funcionamento de toda a engrenagem de pessoas que atuam em uma empresa.
A capacitação deve ser ainda mais intensa para aqueles que atuam em funções de liderança e que podem replicar seu conhecimento entre as equipes.
Uma equipe multidisciplinar em saúde é uma equipe de vários profissionais, de especialidades e conhecimentos diferentes, que atuam de forma separada e independente para o atendimento de um paciente.
Ou seja, suas funções são oferecidas como uma camada nova de um serviço para um paciente, mas não de maneira integrada entre os profissionais que fazem esse atendimento. Não há colaboração ou cooperação nem, necessariamente, comunicação entre eles.
É o caso de um paciente que passa por uma cirurgia em um hospital e depois precisa ser atendido por um fisioterapeuta, por exemplo. Os dois profissionais fazem um trabalho multidisciplinar, cada um na sua especialidade, não necessariamente conversando entre si.
Uma equipe interdisciplinar em saúde é aquela em que há colaboração de duas ou mais especialidades e campos de conhecimentos diferentes, de forma integrada e com um mesmo objetivo, numa mesma equipe para atendimento hospitalar, em clínica ou consultório, público ou privado.
Ao contrário do que ocorre no atendimento multidisciplinar, esses profissionais se comunicam entre si.
Uma equipe transdisciplinar em saúde é aquela em que o trabalho conjunto, executado por diferentes profissionais, de especialidades diversas, busca uma nova forma de conhecimento, mais integrado, para além das disciplinas já conhecidas, para contemplar a necessidade daquele atendimento.
“A transdisciplinaridade supõe a possibilidade de não haver prevalência de uma única lógica, mas sim a integração dos saberes”, diz trecho do artigo “Integralidade e transdisciplinaridade em equipes multiprofissionais na saúde coletiva” (2010), de Silvani Botlender Severo e Nedio Seminotti.
Em 2003, o então presidente do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares, da UFMG, Ivan Domingues, em entrevista a uma revista da universidade, disse que “há uma flutuação conceitual entre esses termos” – interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar:
“Grosso modo, a grande diferença entre os três é que o interdisciplinar e o multidisciplinar estão ainda presos às disciplinas. Ao passo que o transdisciplinar quer ir além. [...] São métodos diferentes. Na multi, várias disciplinas cooperam com um projeto, mas cada qual trabalhando um aspecto do objeto com o seu método. Na inter, há situações em que uma disciplina nova adota métodos de uma outra mais antiga. É o caso clássico, por exemplo, da Bioquímica, matéria em que houve uma fusão de campos. Na trans, a tentativa é a de instaurar uma metodologia unificada.”
Sim, é possível aliar o trabalho multidisciplinar e interdisciplinar no atendimento de saúde.
A maior parte dos hospitais e clínicas já trabalham com o conceito da multidisciplinaridade em vários atendimentos. Médicos de várias especialidades que atendem um mesmo paciente em tratamento são rotina.
Mesmo nesses ambientes em que a comunicação entre profissionais diferentes é mais escassa, é possível inserir uma realidade inter ou transdisciplinar em atendimentos específicos. Por exemplo, nos cuidados paliativos em pacientes com câncer terminal ou nos cuidados com pacientes muito idosos.
O artigo “Relações de trabalho em equipes interdisciplinares: contribuições para a constituição de novas formas de organização do trabalho em saúde” (2009), que analisou o trabalho de equipes interdisciplinares de saúde em dois hospitais públicos, constatou que “a perspectiva interdisciplinar possibilita melhores relações de trabalho entre profissionais e entre eles e doentes/família, aproxima os profissionais das necessidades do doente e contribui para uma assistência de melhor qualidade”.
Ou seja, organizações que conseguem aliar o trabalho de médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, dentistas, entre outros profissionais – inclusive de áreas fora da saúde –, para garantir o bem estar de seus pacientes, podem obter um alto nível de satisfação não só entre os próprios pacientes atendidos, mas também entre as equipes.
Quando a gestão é bem feita, há ainda economia de tempo e recursos e aumento da produtividade, elevando a sustentabilidade do negócio como um todo.
Quer saber mais sobre o trabalho de um gestor de saúde? Então leia o artigo: O que faz e como se tornar um gestor hospitalar?